09 agosto 2011

PROJETO "LIVRINHOS"

Com frequência, muitos de nossos mestres relatam que os alunos não gostam de ler, muito menos de escrever. Que estratégias podemos adotar para vir a cabo desse desafio, tomando como princípio o fato que ler e escrever representam valores que a escola deve procurar desenvolver e que, também, podem ser uma fonte de prazer?

Desde 1999, orientando-se pelas ideias e pela prática de Célestin Freinet, uma interessante tentativa para dar respostas positivas a esse desafio, vem sendo proposta pela escola Federico Garcia Lorca de Vaulx-en-Velin (sudoeste da França).
A partir do trabalho de uma equipe formada por professores e alunos, essa escola elaborou um projeto intitulado “Petits Livres” (“Livrinhos”). Simples e barato – deve ser desenvolvido em um dos lados de uma folha de papel A4, especialmente dobrada e posteriormente impressa e/ou fotocopiada –, esse projeto utiliza uma matriz (informatizada ou não) que pode ser adotada por absolutamente todas as séries escolares, inclusive por aquelas que reúnem crianças que ainda nem sabem ler e escrever!

A aceitação do projeto por professores, alunos e seus familiares foi imediata! Em 2007 o projeto “Petits Livres” ganhou o prêmio de Inovação educativa em seu país de origem. Em 2008, foi criada sem fins lucrativos, a editora cooperativa “Les Célestines” visando a apoiar logisticamente as atividades de produção escrita realizadas pelos alunos, divulgar as técnicas de elaboração dos livrinhos e favorecer a difusão dessas publicações dentro e fora da escola.. Essa editora está sob a égide da Creative Commons quanto ao respeito à autoria de suas publicações.

O trabalho de criação dos livrinhos começa durante as aulas de produção escrita, nas quais os alunos elaboram um primeiro esboço de textos de temática livre, de cunho literário ou não, podendo ser, por exemplo, a redação de uma experiência científica ou mesmo, para os alunos ainda não alfabetizados, a ocasião para fixarem por escrito as primeiras descobertas no decorrer de seu processo de letramento/alfabetização.
Esse trabalho de escrita e reescrita e ilustração dos textos rapidamente passou a ser realizado na sala de informática da escola, pois os recursos tecnológicos facilitam esse trabalho, além de auxiliar a diagramação criativa e agradável do texto.
Durante o trabalho de reescrita, oficinas de adequação à língua materna padrão são organizadas e, assim, os alunos, em equipe, podem refletir sobre os parâmetros dessa variedade linguística bem como sobre sua utilização para melhorar os textos sem retirar-lhes o frescor e a originalidade.

Após essa etapa de produção, aqueles alunos que desejarem ver seus textos publicados, divulgados e mesmo comercializados pela editora cooperativa “Les Célestines”, apresentam-nos a uma Comissão de edição que se reúne uma vez por semana. Essa comissão é composta por dois representantes de cada uma das salas de aula da escola. Com apoio de professores voluntários, os alunos devem ler, comentar, criticar, aconselhar e escolher semanalmente os dois melhores projetos de livrinhos para serem publicados pela editora da escola. Dez exemplares fotocopiados de cada obra selecionada serão entregues a seu autor e outros 10 poderão ser comercializados durante o recreio, oficinas na escola etc, a um preço correspondente aos custos com a impressão das publicações. O lucro dessas vendas é totalmente reinvestido nas atividades de aprendizagem dos alunos. Uma ideia original: a escola conseguiu que a biblioteca do bairro comprasse alguns exemplares de alguns desses livrinhos, divulgando ainda mais a produção dos alunos!

Os efeitos desse projeto fizeram-se logo sentir: alunos mais motivados para a leitura e para a escrita, preocupados com o conteúdo e a “materialidade” do objeto livro (estrutura, edição, ilustração); interessados pelo que seus colegas produziam, dentro de uma lógica de divulgação do que estava sendo produzido. Atitudes cooperativas surgiram mais facilmente entre eles, bem como as capacidades de perguntar, dialogar e argumentar. Professores relataram sentirem-se mais estimulados, devido ao interesse, a curiosidade e a participação dos alunos durante todo o projeto. Pais e familiares dos alunos mostraram-se também satisfeitos por perceberem que seus filhos estavam realmente aprendendo, com mais gosto pelo trabalho escolar, demonstrando um genuíno prazer em ler e escrever!

Esse projeto continua a ser desenvolvido com o mesmo entusiasmo tanto na escola Federico Garcia Lorca como também em várias outras escolas pelo mundo afora que têm enviado seus “livrinhos” para serem publicados na página eletrônica da editora “Les Célestines”. Desde o primeiro semestre de 2011, a SEMEC/Belém, durante as formações ofertadas pelo Núcleo de Informática Educativa (NIED-Belém) e no decorrer das atividades do projeto ALFAMAT, também implantou esse projeto e vem apoiando e estimulando sua realização.

Os relatos dos professores de sala de aula e de sala de informática tem-nos revelado o quanto nossos alunos são criativos e estavam esperando por essa oportunidade para colocar no papel suas experiências, seus sonhos e desejos. Nossos alunos, contrariamente ao que se possa pensar, não rejeitam o ato de ler e escrever. Estão, sim, em busca de estratégias e práticas que lhes auxiliem na prática da leitura e da escrita com mais significado e prazer! Como se diz em francês: “À suivre...

Link para a página do projeto: http://petitslivres.free.fr/
Link para vídeos que ilustram as diversas etapas do projeto, bem como o processo de dobradura dos livrinhos: http://petitslivres.free.fr/spip.php?rubrique3
Link para as técnicas de produção dos livrinhos: http://petitslivres.free.fr/spip.php?rubrique1

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O texto acima é da professora Rosistela Pereira de Oliveira, que nos apresentou o projeto Livrinhos.
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Postado por Franz